sexta-feira, 29 de julho de 2011

CONTROLE POSTURAL E ESPASTICDADE

Desde que o homem adotou a postura ereta bípede, iniciou o desafio de manter o equilíbrio do corpo sobre uma pequena área de suporte. Para que esta postura ereta seja mantida, há ativação de um complexo sistema do controle do equilíbrio contra a força da gravidade sobre uma pequena área de suporte ainda delimitada pelos pés. E ainda assim, mesmo quando posicionado estático, ocorrem oscilações. E esta habilidade de controlar a postura ereta, apenas é percebida como uma tarefa difícil, quando a mesma é deteriorada, como ocorre em diversas patologias ou mesmo pela idade (Duarte, 2000).

A orientação do corpo humano com respeito à gravidade é uma habilidade ativa que envolve tempo de aprendizagem e coordenação de dezenas de músculos, do sistema vestibular e do senso de equilíbrio (MOCHIZUKI & AMADIO, 2006).

Os desajustes causados pela falta de controle postural acarretam estresse mecânico repercutindo em alterações clínicas com conseqüências no tecido conjuntivo, nos músculos e nas articulações.

Em algumas patologias, há a presença da espasticidade, que é uma anormalidade de movimento e de postura, sendo de origem cerebral e manifestada nos músculos. É considerada um importante fator de risco para alterações motoras e do equilíbrio, podendo comprometer o controle postural (MAGNANI, 2005).

No indivíduo portador de Acidente Vascular Encefálico, a espasticidade é observada na fase crônica, e após a sua instalação e o consequente desenvolvimento de contraturas e de padrões sinérgicos de movimento, a propriocepção e o equilíbrio são afetados e causam a deterioração do controle motor e postural (CARR,1988).


A importante e complexa tarefa de manutenção da postura ereta se refere ao alinhamento e controle de vários segmentos corporais, que requer uma interação completa entre o sistema neural, musculoesquelético e sensorial, incluindo as relações biomecânicas entre os segmentos corporais, sendo assim, na harmonia dos sistemas, as oscilações do corpo conseguem manter os segmentos corporais de forma constante (FERREIRA, 2005; BARELA, 2000).

Durante a manutenção da postura corporal, as forças atuantes não se mantém constantes, sendo assim, mesmo em uma posição estática, o corpo nunca está totalmente imóvel, havendo oscilações do centro de massa de um lado para outro e para frente e para trás. Isso é decorrente da dificuldade em manter os muitos segmentos corporais alinhados entre si sobre uma base de suporte restrita, utilizando o sistema de controle postural, onde o sistema muscular esquelético produz forças que variam ao longo do tempo (DE LUCA et al apud BARELA, 2000).

O controle postural envolve o controle da posição do corpo no espaço com o propósito de estabilidade e orientação. A orientação postural é definida como a habilidade de manter uma boa relação entre os segmentos do corpo, e entre o corpo e o meio ambiente, para assim realizar uma tarefa. A estabilidade postural é a habilidade de manter o corpo em equilíbrio, e sua manutenção é um processo dinâmico entre forças estabilizadoras e desestabilizadoras, internas e externas que agem no corpo durante as ações motoras (FERREIRA, 2005; BARELA, 2000).

O sistema de controle postural necessita de informações sobre as posições relativas dos segmentos do corpo e da magnitude das forças atuando sobre o corpo, para assim se cumprir a regulação do equilíbrio. Para isso, três classes de sensores podem ser utilizadas pelo corpo: somatossensorial, visual e vestibular (MOCHIZUKI & AMADIO, 2006).

Estes receptores atuam em sua complexidade integralmente e de maneira diferenciada para cada perturbação sobre o corpo humano (Rothwell apud Duarte, 2000). O sistema visual fornece informações sobre a posição e movimento de um objeto no espaço, além da posição e movimento dos membros relativo ao ambiente e ao resto do corpo (propriocepção visual) por meio dos olhos. O sistema somatossensorial é efetivo para percepções rápidas, fornecendo informações sobre a posição do corpo no espaço relativo à superfície de suporte, informações da posição e velocidade relativa entre os segmentos do corpo além de informações sobre as pressões agindo na interface segmento/base de suporte. O Sistema vestibular fornece informações sobre a posição e movimento da cabeça em respeito à força da gravidade e forças inerciais, captando informações de diferentes aspectos da orientação e movimentação da cabeça (DUARTE, 2000).

Para Magnani (2005), a integridade do sistema de controle postural, é tipicamente avaliada com testes de posturologia estática e/ou dinâmica, por meio do movimento do centro de pressão derivado da força de reação do solo. De forma mais específica, a Escala de Avaliação para paciente após AVE (EAPA), elaborada por Benaim et al, avalia três posturas fundamentais: deitado, sentado e em pé (YONEYAMA et al, 2008).

Indivíduos com seqüelas de AVE apresentam diminuição do controle postural devido a alterações anormais de contrações musculares decorrentes do acometimento do Sistema Nervoso Central (SNC), onde os reflexos fásicos e tônicos exagerados são usualmente hiperativos. Comumente, essa lesão cerebral resulta em espasticidade da musculatura de membros e do tronco (FELICE; ISHIZUKA & AMARILHA, 2010)

A espasticidade é definida como uma disfunção motora caracterizada por desarmonia dos movimentos musculares, resultantes do aumento dependente da velocidade, nos reflexos de alongamento tônico (tônus muscular) com espasmos exagerados no tendão e hipertonicidade dos músculos antigravitacionais. Associa-se dentro da síndrome do neurônio motor superior, com a presença de fraqueza muscular, hiperreflexia profunda e presença de reflexos cutâneo-muscular patológicos, como sinal de Babinski (MAGNANI, 2005).

A espasticidade pode ser avaliada através de escalas como a de Ashworth, onde através de escores de 1 a 5 é graduado o grau do tônus muscular, sendo grau 1 sem aumento de tônus e grau 5 determinando a rigidez em flexão ou extensão. Já a escala de espasmos musculares, gradua a freqüência dos espasmos, onde o grau 0 determina nenhum espasmo, e grau 4 com dez ou mais espasmos espontâneos por hora. Outras escalas de avaliação são utilizadas como a Barthel, a de avaliação do movimento (EAM), a de medição da locomoção independente funcional (EMLIF) (TEIVE; ZONITA & KUMAGAI, 1998).

Em um levantamento bibliográfico, Duarte (2005) observou que a ativação retardada de músculos espásticos, consiste com a idéia de que os pacientes com hipertonia espástica apresentam a incapacidade de recrutar e regular a freqüência de disparos dos motoneurônios. Este retardo significativo no início das respostas posturais podem contribuir para a instabilidade de paciente com hemiparesia e espasticidade.

A fisioterapia visa como tratamento a inibição da atividade reflexa patológica para normalizar o tônus muscular e facilitar o movimento normal, devendo ser iniciado o mais breve possível. Por inibição da atividade reflexa patológica se entende evitar e combater os padrões de movimento e posturas relacionadas aos mecanismos reflexos liberados, adotando posições e guias adequadas e empregando os métodos inibidores. Desta forma, a fisioterapia pode prover condições que facilitem o controle de tônus prestando ajuda nos movimentos e na aquisição de posturas, oferecendo estímulos que favoreçam os padrões normais (TEIVE; ZONITA & KUMAGAI, 1998).

Para Teive; Zonita & Kumagai (1998), dentre os diferentes métodos fisioterápicos existentes para o tratamento da espasticidade, sobressai o método neuroevolutivo Bobath, que tem como metas, em resumo, preparar o indivíduo para uma função, manter as já existentes ou aprimorar sua qualidade, através da adequação da espasticidade e promoção do controle postural.


O individuo que sofreu um AVE, que apresenta o quadro de espasticidade, soma ao défict neurológico residual a diminuição de equilíbrio e consequente alteração do controle postural. Considerando que o processamento motor, alterado pela espasticidade, incluindo os componentes músculo-esqueléticos e neuromuscular, é essencial para a geração e coordenação de forças que controlam a posição do corpo no espaço.



Referência Bibliográfica

BARELA, J.A. Estratégias de controle em movimentos complexos: ciclo percepção-ação no controle postural. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, V.3, p.79-88. 2000.

CARR, J.H.; SHEPHERED, R.B. Marcha: Programa de reaprendizagem motora para o hemiplégico adulto. São Paulo: Manole, 1988.

DUARTE, M. Análise estabiliográfica da postura ereta humana quase-estática. 87f. Tese do curso de Docência na área de Biomecânica. São Paulo, 2000.

FELICE, T.D..; ISHZUKA R.O.R.; AMARILHA, J.D.; Eletroeestimulação e crioterapia para espasticidade em pacientes acometidos po AVC. Revista Neurociência. V.19, n.2, p.77-84. 2010.

FERREIRA, E.A.G. Postura e controle de avaliação postural. 114 f. Tese de Doutorado em Ciência – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo. 2001.

MAGNANI, R.M.. Estudo do controle postural de crianças portadoras de paralisia cerebral espástica sob a influencia do estímulo visual por meio de parâmetros estabiliométricos. 80f. Dissertação de Mestrado – Universidade do Vale do Paraíba. São José dos Campos, 2005.

MOCHIZUKI, L.; AMADIO, A.C. As informações sensoriais para o controle postural. Fisioterapia em movimento. Curitiba

TEIVE, H.A.G.;ZONTA, M.; KUMAGAI,Y. Tratamento da espasticidade – uma atualiação. Arquivo Neuropsiquiatrico, v.56, n.4, p. 852-858. 1998.

YONEYAMA, S.M.; ROIZ, R.M.; OLIVEIRA T.M.; OBERG,T.D.; LIMA, N.M.F.V. Validação da versão brasileira da Avaliação para Pacientes após Acidente Vascular Encefálico. Acta Fisiatra; v.15, p.96-100. 2008.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Fisioterapia na Paralisia Braquial Obstétrica

As lesões traumáticas do plexo braquial que acometem o recém-nascido durante o parto estão se tornando menos freqüentes nos dias atuais, pelo desenvolvimento das técnicas obstétricas e pela melhor assistência neonatal. No entanto, os casos afetados continuam a necessitar dos cuidados
ortopédicos e fisioterápicos durante boa parte de sua vida, com considerável custo social e familiar e com resultados frequentemente insatisfatórios.


A Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, utiliza a seguinte classificação da paralisia braquial obstétrica (PBO).


Tipo

Raízes

Manifestações

Erb-Duchenne(paralisia alta)

C5 a C7

Braço acometido sem movimento, ao lado do corpo, com o ombro rodado internamente, cotovelo estendido e punho ligeiramente fletido.

Perda da abdução e da rotação externa do braço. Incapacidade para a flexão do cotovelo e supinação do antebraço. Ausência do reflexo bicipital e de Moro no lado acometido. Preservação da força do antebraço e da capacidade de preensão da mão. Possibilidade de deficiência sensorial na face externa do braço, antebraço, polegar e indicador

Klumpke(paralisia baixa)

C8 e T1

Flexão do cotovelo e supinação do antebraço.

Acometimento dos músculos da mão com ausência do reflexo de preensão palmar. Reflexo bicipital e radial presentes. Síndrome de Horner (ptose palpebral, enoftalmia, miose, e anidrose facial) quando há envolvimento das fibras simpáticas cervicais e dos primeiros nervos espinhais torácicos

Completa

C5 a T1

Membro superior acometido flácido com todos os reflexos ausentes



O mecanismo de lesão é um afastamento da cabeça em relação ao ombro, causando o estiramento das raízes nervosas e conseqüente dano estrutural. É o resultado de um parto laborioso onde houve lesão neuronal por tração ou avulsão das fibras do plexo braquial durante as manobras obstétricas quando do desprendimento do ombro do recém nascido.

Em geral, as fibras superiores do plexo são as mais acometidas , porém sofrem avulsão mais raramente que as fibras inferiores, ou seja, as fibras mais caudais tendem a ter mais lesões por neurotmesis enquanto as mais craniais tendem à lesão por neuropraxia.

Esse tipo de trauma fechado também pode ser observado no parto em apresentação cefálica após o desprendimento da cabeça quando o obstetra a traciona junto com o pescoço da criança para desprender o ombro, principalmente o direito que cavalga na púbis materna explicando-se essa maior incidência visto a maior frequência de apresentações cefálicas em oblíquo anterior esquerdo, nesse caso o ombro direito preso no estreito inferior é que sofre tração levando à lesão neuronal.

Outros fatores também pertinentes são: macrossomia fetal (principalmente se acima de 4 kg), diabete materno , distocia de ombro e mãe de idade avançada.

A incidência dessa patologia chega a ser 1 em cada 4000 crianças, embora venha diminuindo com o avanço da tecnologia, visto que os obstetras podem prever a ocorrência e evitá-la.

As manifestações clínicas como atrofia, hipomobilidade, edema, hematomas são indicativas. A eletroneuromiografia pode ser utilizada principalmente nos três primeiros meses objetivando localizar a lesão e definir o grau de envolvimento dos nervos.

Toda criança com PBO deve ser investigada quanto a presença de lesões associadas como fraturas (úmero, clavícula ou parietal), paralisia de nervo frênico ou facial, ruptura ou hemorragia de esternocleidomastoideo e lesão cerebral.

O prognóstico varia de acordo com a gravidade da lesão do plexo. Porém, o prazo máximo de recuperação varia de 1 a 18 meses. Normalmente é de 4 a 5 meses para as lesões superiores e 7 a 9 meses para as lesões inferiores.

A avaliação fisioterápica inicia com os movimentos ativos e dos refexos, como o de Moro (assimetria). O tratamento fisioterapeutico se baseia em promover boas condições possíveis para recuperar a capacidade funcional em proporcionar condições ambientais necessárias para os músculos poderem reassumir a função, logo após a regeneração das estruturas nervosas e em treinar o controle motor mediante exercícios.

De acordo com o protocolo clínico do Ministério da Saúde do Kwait, o tratamento se baseou em cinco fases:

Fase 1: Duas semanas

Tem por objetivo orientar o cuidador quanto a manuseios e posicionamentos da criança nas atividades de vida diária, como manter o braço em supinação e rotação externa, sempre alinhar a cabeça da criança na linha média; não permitir que o bracinho fique solto, mantendo-o fletido sobre o peito (porém não por muito tempo); e nunca puxar a criança pelo bracinho afetado.

A fisioterapia neste momento consiste em mobilizar passivamente o ombro, cotovelo e articulações do punho.

Fase 2: Duas semanas a quatro meses

Esta fase tem por objetivo melhorar a ADM (com exercícios suaves), a sensibilidade e a força muscular; manter o desenvolvimento motor da criança dentro dos padrões da normalidade, observando se há compensações com padrões de movimentos inadequados.

Os exercícios de descarga de peso devem ser utilizados para aumentar a propriocepção e a co-contração.




Fase 3: Quatro a seis meses

Neste estágio, o programa dos estágios 1 e 2 continuam, sendo necessário encorajar atividades bimanuais para prevenir a heminegligência. Atividades que aumente a mobilidade, força, propriocepção, reações de retificação, equilíbrio e de proteção também são importantes neste momento.

Estágio 4: Seis meses a um ano de vida

Os objetivos dos programas anteriores permanecem. Nesta fase é perceptível a melhora de força e coordenação no braço afetado, porém ainda é necessário atividades que estimule funções específicas.


Estágio 5: Um a quatro anos de vida

É necessário prev
enir o desuso do membro comprometido, assim como encurtamentos e deformidades.
A hidroterapia nesta fase, além de lúdica, pode trazer
grandes benefícios à criança, como aumento de ADM, controle muscular e equilíbrio.



Referências Bibliográficas:

Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Paralisia Braquial Obstétrica. Disponível em: http://www.sarah.br/paginas/doencas/po/p_10_paralisia_braquial_obst.htm. Acesso em 27 de julho de 2011.

PHYSICAL THERAPY MANAGEMENT of obstetric brachial plexus injury - Committee of Physical Therapy protocols, Office of Physical Therapy Affairs, Ministry of Health,
Kuwait.




Dra. Alice Lima de Araújo
Fisioterapeuta Neurofuncional
Contatos: (62) 8527.0870
Clínica Florescer: (62) 3204.4224
E-mail: alice.la.fisio@gmail.com